FIVE FOOT TWO
- Pedro Candido
- 8 de out. de 2017
- 3 min de leitura

FIVE FOOT TWO (2017, Chris Moukarbel, NETFLIX)
Lady Gaga explodiu no cenário musical em 2008 (Com hits como Poker Face e Just Dance) e alcançou seu auge em 2010 com o álbum The Fame Monster e até hoje é lembrada por seus visuais icônicos e extravagantes e clipes emblemáticos. Quase 10 anos depois, muita coisa mudou: Ela se reinventou como cantora, se distanciou dos excessos visuais do início de carreira, lançou um álbum de jazz em conjunto com Tony Bennett, fez cinema, ganhou um Globo de Ouro por sua atuação na série American Horror Story, engajou-se politicamente, refinou seu discurso, ficou noiva do também ator Taylor Kinney, lançou outros dois álbuns experimentando uma nova sonoridade, mas jamais alcançou o sucesso comercial da era The Fame/Fame Monster.
O documentário da NETFLIX, FIVE FOOT TWO (2017) situa-se no meio do processo de produção (e da expectativa) do seu 5º álbum JOANNE (Nome em alusão a sua tia que morreu aos 19 anos após lutar contra o lúpus, doença que a cantora também tem, assim como o nome da tia em sua certidão) e em meio aos preparativos para sua maior apresentação ao vivo, e ponto mais alto para qualquer artista, o show do intervalo do SuperBowl. Mas engana-se quem espera encontrar apenas isso durante os 100 minutos de duração do filme. Nada poderia ser mais distante do que a Gaga que todos nós conhecemos, FIVE FOOT TWO desconstrói o mito e nos apresenta um novo, alguém completamente despida (literalmente, inclusive. rs): Desde os acessórios que a fizeram famosa às fragilidades que a obriga a equilibrar as expectativas da alcunha de ser uma das maiores e mais populares artistas de sua geração.
FIVE FOOT TWO é sobre a Lady Gaga que pouca gente conhece e quase ninguém tem acesso. Em meio ao término do noivado com Taylor Kinney, é sobre as dores intensas da fibromialgia (doença que impediu que ela se apresentasse no último Rock in Rio no Brasil), é também sobre seu processo de evolução criativa e pessoal. Lady Gaga aparece frágil e sincera, cita o impacto que teve a rixa pública com Madonna, fala sobre o medo da fama, citando (não oficialmente) Amy Winehouse. Para além dos que vemos nos clipes e nos palcos, o documentário nos leva a enxergar Lady Gaga sob outras perspectivas, de forma emocional e dramática vemos ela lidar com intensas dores antes de uma apresentação, sua ligação com a família e falando com sua amiga Sonja que tem câncer (A música "Grigio Girls" que está no álbum Joanne é uma homenagem para ela que morreu antes do lançamento do documentário). É também sobre a figura pública, mas não somente, há espaço para vê-la entendendo, cada vez mais consciente, a sua arte, sua voz e a repercussão dela, é maravilhoso vê-la comandando sua futura performance no SuperBowl, desabafando sobre como as pessoas ainda esperam que ela "volte para o pop", como se esperasse que ela não tivesse experimentado coisas novas ao longo desses anos e de como ela parece, segundo ela, pela primeira vez comandar sua própria vida e saber que rumo trilhar, apesar de tudo.
Talvez o ponto mais forte do documentário seja a desmistificação da diva pop, mostrar sua fragilidade e quebrar as expectativas de quem espera exatamente o contrário, não há nada apoteótico ou que reafirme sua áurea de intocável.
No entanto, o ponto negativo é que parece ser um filme feito para interessar somente aos fãs. É recheado de referências e de alusões ao que Lady Gaga foi nos últimos anos. Os grandes hits não aparecem (Claro que Bad Romance está lá, inclusive em uma versão épica no piano) e dão lugar aos novos (Evidente que como se trata do processo de criação do álbum JOANNE grande parte das músicas dele apareçam mais). Muito provavelmente para quem não acompanha seu trabalho ficará vez ou outra perdido ou desinteressado na enxurrada de informações sobre sua carreira, mas é válido dizer que isso não tira o brilho desse panorama de uma Lady Gaga, quem diria, cada vez mais humana e comum em toda sua grandiosidade e talento.
01 CURIOSIDADE: Especula-se que o título do filme deve-se a música "Five foot two, eyes of blues" cantada por Dean Martin. A música fala sobre um homem que procura uma mulher, na descrição dele, ela estaria coberta de jóias e casacos de pele, no entanto, esses acessórios não fazem quem ela realmente é. Sacaram a analogia?

Pedro Candido
(É acadêmico em Serviço Social, escritor e nas horas vagas gosta de rebolar a raba).
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