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Dos discursos nem tão coloridos assim...

  • Pedro Candido
  • 6 de set. de 2017
  • 3 min de leitura

Sempre que vou à alguma audiência pública, seminário e/ou palestra voltada para a vida da população LGBT+, tenho ficado pensativo sobre o que vejo: É sempre uma mesa de palestrantes que em sua maioria são héterxs falando sobre como é ser um LGBT(!!!). É claro que eu sei que é muito importante para a luta ter ao nosso lado pessoas heterossexuais e, principalmente, que ocupem algum cargo de relevância municipal ou estadual para que algo (institucionalmente falando) voltado para essa comunidade seja feito. Mas eu ando cada vez mais atento sobre o conteúdo de um discurso reducionista que anda sendo proferido nesses lugares e por essas pessoas, ainda que venha carregado de boas intenções: Somos todos humanos. – Elxs dizem. E somos mesmo, impossível discordar! É preciso que LGBTs ocupem os palcos desses seminários e palestras para que se possa ouvir a complexidade que é ser humano, mas não somente isso. Explico: Quando eu ouvi de pessoas da minha família que preferiam que eu estivesse morto ou fosse ladrão a me ver como gay, eu não pude responder aquilo como humano, mas como um LGBT. Quando a travesti Dandara dos Santos foi apedrejada em Fortaleza e espancada por 40 minutos, sem que alguém, nem mesmo a polícia, fizesse alguma coisa, é sabido que não aconteceu isso com ela por ela ser humana, mas por ser travesti. Quando jovens LGBTs são expulsos de casa, o motivo não é sua ofensiva humanidade, mas sua “desviante” orientação sexual. Itaberly Lozano foi morto pela própria mãe por ser gay, não humano. Morre um LGBT a cada 26 horas no Brasil, segundo dados do Grupo Gay da Bahia, e a causa da morte também não é a sua humanidade, até porque não temos notícias de héteros morrendo por essa característica social. A privação de ações banais do cotidiano como beijar em público, andar de mãos dadas na rua, expressar publicamente o amor, nos é tirado por sermos LGBTs e não por sermos humanos.

Quando alguém de fora da comunidade profere esse discurso, ainda que com boas intenções (digo mais uma vez), ela observa toda a problemática social pela visão privilegiada de quem não enfrenta todos os dias essas pequenas e grandes labutas. É necessário que haja respeito e direitos sejam garantidos não somente pela parte que nos une enquanto humanidade, mas, inclusive, e principalmente, pela que nos difere. Porque uma vez, que usamos motivos para configurar respeito e direito a alguém (fulanx merece respeito por isso...), nós estamos tratando esses dois pontos como barganha e não como um fim em si, e logo caímos em uma grande e sufocante sentença de compensação: É Lésbica (GBT) mas pelo menos completou os estudos – já se ouve hoje em dia. E xs que não acessaram a educação formal ficam à margem das garantias que já são difíceis até para quem teve essa oportunidade? Quando a gente diz que xs LGBTs tem que serem respeitadxs porque são públicos consumidores nós esquecemos que existem LGBTs que não são. Castra-lxs mais ainda socialmente é a solução? Não, mas tem sido.

O que temos feito é tentar enquadrar nossas vivências para alcançar um padrão de humanidade que fere todos nós, que é injusto e segregador, e só afeta diretamente quem tem menos privilégios. Que medo é esse de celebrar a diversidade? Precisamos ser iguais para garantir visibilidade efetiva? Enquanto cada lésbica, travesti, bissexual, gay e etc. não tiver seus direitos garantidos e sua liberdade de existir respeitada, para mim, soa impossível celebrar que “somos todos humanos”, porque a nossa beleza não reside (exclusivamente) no que nos padroniza enquanto tais, mas exatamente, e principalmente, nas nossas afrontosas e purpurinadas diferenças.

Pedro Candido

(É acadêmico em Serviço Social, escritor e nas horas vagas gosta de rebolar a raba).

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